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Limitless Mind

Limitless Mind

[Finge que é teatro] - Prólogo

Fevereiro 04, 2023

hannahrbc

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Fonte da imagem: Unsplash

Era uma tarde de verão mais quente do que qualquer outra em Brighton, Inglaterra. O sol já estava a descer, mas o ar ainda era quente e húmido. Sentia-se uma brisa agradável a soprar levemente. As ruas enchiam-se de barulho das crianças que brincavam com água, sendo esta uma das melhores formas de lidar com o calor, apesar de já não ser muito.

Eu já conhecia o caminho que tinha de fazer para chegar ao meu destino. Passava tantas vezes por ali, que agora que pensava no assunto, ia sentir a falta disto tudo. Eu andava devagar para captar tudo o que poderia ser esquecido, quando deixar de passar pelas ruas de Brighton. Quando se conhece o caminho, deixa-se de reparar nos pormenores das coisas e apenas se foca no caminho, e muitas vezes quando finalmente levantamos a nossa cabeça, admiramo-nos, como se fosse a primeira vez. O meu nariz finalmente capturou o cheiro típico da pastelaria que ficava mesmo a frente da casa que eu tanto conhecia – a casa da Susan, a minha melhor amiga desde 5º ano.

Bati a porta e passados alguns segundos, lá apareceu ela. Também a observei antes de entrar, ela era uma rapariga mais baixa que eu, mas por pouco, cabelo castanho liso tocava nos seus ombros e os seus olhos azuis ficaram mais vivos quando ela me viu. Fez o gesto para eu entrar e sem dizer uma única palavra dirigimos para o quarto dela.

- Tu não fazes a ideia de quem me convidou para sair ontem a noite! – Disse-lhe eu mal entrei no quarto da amiga. Só partilhei a informação porque queria descontrair um pouco o ambiente antes de lhe contar A NOTÍCIA.

- Quem? – Perguntou a Susan um pouco indiferente.

Para ela não era novidade nenhuma falar sobre os rapazes que me convidam para sair. Na cabeça dela, eu não fazia nada e tinha toda a atenção do mundo.

- Derek Bryen! – Respondi muito rápido.

- Não me admiro, Vee. Quer dizer, tu és popular, ele é popular. Tu és bonita, ele é bonito... Tu aceitaste? - Ela parou e sentou-se na cama olhando-me curiosa.

Na voz da Susan sentiu-se alguma confusão e talvez um pouco de ciúmes. Esse tom não me admirou, visto que para a Susan, o Derek Bryen era o rapaz mais lindo da escola, mas com quem ela não conseguiu até a data ter uma conversa normal. Sempre que tentava falar com o rapaz, acabava por se humilhar. Como da vez em que finalmente encheu-se de coragem e foi em direção a ele, acabando por não ver uma pedra solta e caindo que nem um saco de batatas no meio da rua. Ou então, da vez em que ela estava na cantina da escola, a beber o seu sumo de limão, Derek passou por ela e cumprimentou-a, ela despejou o seu sumo em cima de si, engasgou-se e ficou o resto do dia peganhenta e a cheirar a limão. O historial da relação entre eles tinha várias páginas, estas duas situações foram as mais engraçadas e embaraçosas que me vieram à cabeça.

Eu não consigo perceber qual era a fixação da Susan e qual era o problema do Derek.

- É claro que não, Susan! – Acalmei-a, ela baixou os ombros e pareceu mais relaxada com a resposta, mas depois encheu o peito e começou a balbuciar.

- Estás a brincar. Só podes. – Revirou os olhos. – Podes fazê-lo por mim? Eu gostava de lhe mostrar que não sou assim tão lástima de pessoa.

Com essa frase eu não me contive e comecei a rir. Quando Susan lançou-me um olhar chateado, a vontade de rir já não era tanta.

- Tu não és uma lástima de pessoa, simplesmente gostas dele e quando passas por ele ficas tão nervosa que te atrapalhas! – Finalmente disse. - Ele sabe isso! Ele tem de saber! E é provável que faz de propósito, está a brincar contigo. Se calhar só me convidou porque és a minha melhor amiga.

- Mas o que fiz eu ao Universo para merecer este castigo? – Disse ela frustrada para o céu.

Eu coloquei o meu braço a volta dos seus ombros e juntei a minha cabeça a dela e declarei:

- Se calhar o Universo está a mostrar que estás no caminho errado, estás a ir para uma armadilha onde vais acabar por te magoar.

- Talvez tenhas razão! Quer dizer, com os outros rapazes foi tudo bem, agora com ele... - Susan afastou-se de mim e pôs um sorriso na cara. – Então, quais são os planos para hoje? O que vamos fazer?

Eu não sabia o que lhe dizer. Como é que eu lhe ia contar que nos próximos 3 anos não nos íamos ver todos os dias? Que a partir da próxima semana, toda a minha vida ia mudar. Para ser sincera, nem sabia se estava pronta para uma mudança tão grande. Quando pensava nisso, ficava ansiosa.

Eu nem era capaz de ficar muito tempo sozinha em casa, já para não falar de me mudar para um novo país, não conhecia ninguém, não sabia o que me esperava lá, estava a ficar tudo demasiado real sem eu dar conta disso. Finalmente enchi-me de coragem e comecei a falar:

- Bem, Susan...

Novamente, não soube o que dizer. "Olha, vou me mudar para a semana. Não, não é para o outro bairro, nem para outra cidade, mas sim, para outro país". Tudo isso estava na minha cabeça, mas não sabia como dizer.

- O que é? – Questionou-me ela, depois, parece que se lembrou de algo, suspirou e prosseguiu - É por causa do que aconteceu no outro dia, querias falar sobre isso? Eu sei que não falamos propriamente disso, mas eu já te pedi desculpa!

Ao princípio não percebi ao que ela se referia, por isso puxei pela cabeça para ver se me lembrava da nossa última discussão. Só me vieram as memorias da Susan que andou a encontrar-se com o meu ex-namorado, sem me contar nada. Se calhar era disso que ela estava a falar. Porque quando eu descobri sobre os encontros deles, pedi que ela se afastasse dele, porque ele a ia magoar. Todavia, os meus concelhos foram totalmente ignorados e mandados para o lixo, pois na semana anterior ela tinha ido com ele a um café.

Obviamente que isso me deixava chateada, não pelo facto de ser meu ex-namorado, mas sim porque ela estava a ser amiga de alguém que não merece a amizade dela. Nada sobre esse assunto me deixava feliz, além de mais, não queria falar sobre nada disso, precisava de falar sobre o facto de me ir embora.

- Ouve, eu percebo que ele te magoou, a sério que percebo. – Continuou a minha amiga - O fim de namoro implica confusão das duas partes, mas acredita que eu não estou interessada nele nesse sentido, ele também é melhor amigo do meu ex-namorado.

No fim do nosso 9º ano, conhecemos o Chris e o Michael, eles eram dois melhores amigos tal como nós. Eu comecei a namorar com o Chris e pouco tempo depois, a Susan assumiu o namoro com o Michael. Tudo mudou no início do 12º ano, em que eu e o Chris acabamos, e como era de esperar, deixei-me de dar com o grupo. Eles os três continuaram amigos, sempre a sair juntos e sempre a almoçar juntos, deixando a ex, neste caso eu, de parte. Eu é que era a excluída, eu estava em minoria, por isso, as coisas complicaram na nossa relação.

Mesmo antes do Verão começar, Michael disse à Susan que já não estava interessado nela, sendo que pouco tempo depois ela descobriu que ele tinha estado com outra rapariga, daí a falta de interesse pela Susan.

No final desta história, ela e o Chris começaram a ficar muito amigos, e eu comecei a desaprovar essa amizade, e ela começou a omitir coisas. Chegando assim a nossa discussão.

Só queria despachar o assunto e falar do que era realmente importante, mas sempre que a conversa começava em Chris nunca mais tinha o fim.

- Sabes, ele perguntou por ti e disse que tinha saudades tuas. – Susan ainda estava no mesmo tema. - Eu respondi que tu não estavas nada bem sem ele, e que acabar com ele foi o maior erro da tua vida.

- Susan, a sério... Já tivemos esta conversa inúmeras vezes e voltamos sempre ao mesmo. Eu não gosto mais do Chris e estou bem sem ele. Estou ótima, feliz e finalmente livre. Não percebes que ele me sufocava? Eu não estava bem, agora estou!

- Se achas que dormir com quase todos os rapazes, é estar bem, então, pronto, estás bem!

Sempre que nós falávamos sobre a minha vida pessoal, as coisas tornavam-se conflituosas, visto que pensávamos em histórias diferentes. Ela não me ouvia, mas eu também não me esforçava para ela perceber. Nunca lhe contei nada do que se passava na realidade comigo, porque na parte que importava, ela não tinha acreditado em mim. Limitava-me sempre a dizer que estou bem, mas ela já reconheceu o padrão das minhas respostas e que eu ando a fugir da realidade.

Como estávamos todos na escola, os rumores de quem dorme com quem espalhavam-se demasiado rápido e eu usei isso para mostrar que já me esqueci do Chris. Infelizmente, as coisas complicaram-se e agora a escola pensa que sou uma rapariga fácil. E já aconteceu demasiadas vezes os rapazes dizerem que dormiram comigo, quando eu nem me lembrava do nome dele. Sim, não era uma das melhores famas da escola, mas garantia que o Chris nunca mais ia se aproximar de mim. Nem que fosse pelo desdém que sente.

- De qualquer das formas, isso já não interessa porque vou para Portugal.

E é isso. Finalmente consegui dizer aquilo que realmente interessava, a verdadeira razão da minha presença nesta casa.

- Tu o quê? – A minha amiga estava mais que incrédula. – Mas nem te inscreveste lá! Disseste que ficavas cá em Brighton e que íamos para universidade juntas! Prometeste que eu ia ser a tua colega de casa... - Susan estava chateada e ao mesmo tempo triste.

- Eu nunca pensei que ia ser aceite na Universidade Católica de Lisboa.

- Porque não te candidataste ao Cambridge ou qualquer outra Universidade de Reino Unido? Algo desde país.

- Porque eu nasci em Portugal e queria estudar direito lá. E o meu pai andou nessa universidade e foi basicamente por causa disso que entrei! É uma das universidades mais prestigiadas da Europa, eu não podia perder a oportunidade.

Sem dúvida que andar na Universidade Católica ia mudar a minha vida e já estava pronta para horas e horas de estudo. Quando recebi o email a confirmar que fui aceite, tive de reler várias vezes até tudo se tornar realidade. Não podia acreditar!

- Quando é que soubeste? – Perguntou a Susan.

- Ontem a noite. As aulas começam a meio de setembro, que é já daqui a duas semanas. Eu ainda tenho de me inscrever e escolher os horários, é um processo complicado.

- Então, quando é que te vais embora?

- Na próxima semana.

- Como foste capaz? – Dito isso, ela abraçou-me.

1 semana depois

Não podia acreditar que estava realmente em Portugal em Lisboa, em que estava sol praticamente o ano todo. Para uma pessoa que viveu maior parte da sua vida num sítio em que chove quase todos os dias e raros são em que realmente está muito sol e calor, esta era a cidade paraíso.

Tal como eu tinha planeado, encontrei-me com o pai e acabamos por arrendar um apartamento com 3 quartos, em que ficou decidido que eu ia ter 2 colegas de casa, porque apesar de eu não ter problemas com dinheiro, tinha problemas em ficar sozinha numa casa.

Ao fim de uma semana, tinha duas raparigas a viver comigo no apartamento: a Beatriz que andava na Faculdade de Ciências no curso de Biologia, ela era loira, magra, de olhos escuros, eu achava-a linda, sempre bem vestida e muito bem-educada, além de simpática, basicamente o meu pai adorou-a e aprovou que ela vivesse comigo. E a Helena da Faculdade de Belas Artes no curso de Arquitetura, ela era mais rebelde, quando a conheci tinha o cabelo verde e cortado de uma forma louca, pele clara e tinha que vestir sempre algo preto, mas ela também era simpática e muito asseada, o meu pai também gostou dela. É difícil viver com mais duas raparigas, mas felizmente não foi preciso muito para começarmos a dar bem.

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